domingo, 11 de janeiro de 2009

A Expressão Musical para Crianças da Educação Infantil



O tratamento metodológico dado a musica através da educação infantil tem-se limitado a um momento de recreação, ou somente ao tempo em que se preparam coreografias musicais para as festas comemorativas da escola. Não há, portanto, nenhum compromisso ou objetivo relacionado ao desenvolvimento expressivo da criança.
A música deve ser vista como uma verdadeira "linguagem de expressão”, parte integrante da formação global da criança. Ela deverá estar contribuindo no desenvolvimento dos processos de aquisição do conhecimento, sensibilidade, criatividade, sociabilidade e gosto artístico. Caso contrário se perde na forma de mera atividade mecânica, com a simples reprodução de cantos, sem a interação da criança com o verdadeiro momento da atividade musical.
O benefício desse momento lúdico deve prevalecer sobre os conteúdos. O momento de descobertas, de reconhecer os sons, as combinações rítmicas, melódicas e até harmônicas constituem para a criança um grande prazer e satisfação. Ela poderá estar manipulando, de acordo com suas vontades, os sons que produzirá através de suas próprias experiências, organizando-os, no início, de acordo com regras estipuladas por ela mesma. Esse momento é de fundamental importância, porque a criança estará bastante receptiva e mais envolvida para participar de um "fazer musical", desbloqueada de preconceitos como os de que não sabe cantar ou não tem ritmo, inibições estas criadas, muitas vezes, pela própria escola, principalmente quando chegam ao ensino fundamental. Corrigir seus erros antes que ela possa cantar ou tocar é levá-la a se calar...
Semelhantemente, assegurar à criança a compreensão de que ela canta porque identifica sons, que bate o ritmo na pulsação porque incorporou essa pulsação é proporcionar-lhe confiança na sua própria capacidade de expressar-se, o que, indiscutivelmente, a beneficiará e a estimulará a novas experiências.
Curioso é saber os motivos pelo qual não se desencadeia um processo simples, espontâneo, lúdico, em que haja prazer por parte da criança em estar participando da experiência musical. Porém o processo de aquisição dos meios expressivos é construído, lentamente, passo a passo, gradativamente, de forma profunda e ampla. De modo que seja vivenciado e colocado cada vez mais em prática as experiências com seus próprios meios expressivos. Importante também é salientar que nem toda a idéia de uma experiência proposta é concretizável. Nem sempre a resposta é a que se espera. Existe frustrações. Mas, num processo que prevê elaborações e re-elaborações, entre prazeres e conflitos, também é possível construir.
Muito nos inquieta a banalização por parte das escolas, em relação a expressão musical, de forma que estas manifestações só se dão em momentos comemorativos, Os ensaios musicais, quando acontecem, quase sempre estão vinculados a futuras apresentações, datas especiais, em que as crianças têm o compromisso de se apresentarem "o melhor possível". Converter-se um processo que poderia ser rico, prazeroso, espontâneo num momento de pura obrigação é uma lástima. Não que estes momentos devam ser descartados. É bastante salutar apresentar o resultado de um momento musical elaborado por um grupo, porém, quando se está à mercê de prazos preestabelecidos, principalmente nessa faixa etária, perdem-se grandes oportunidades de que as crianças explorem o processo em toda sua magnitude.